Imagine se você pudesse sair da sua zona de conforto para encarar uma super aventura, com potencial de mudar a sua percepção sobre cidadania para sempre… Pensou? Pois este é o Projeto Rondon! Para quem ainda não o conhece, essa é uma iniciativa de integração social, coordenada pelo Ministério da Defesa, Forças Armadas, Governos Estaduais e Municipais e que conta ainda com a colaboração do Ministério da Educação (MEC).

É claro que a Faculdade Única, em parceria com o Grupo Prominas, não poderia ficar de fora! Com perdão ao trocadilho, mas somos a única instituição de ensino do Vale do Aço que participa do empreendimento!

O projeto representa uma oportunidade para que os jovens universitários vivenciem as diferentes realidades do Brasil e coloquem em prática o que aprendem em sala de aula. E, mais do que isso, é a chance de, por meio da interação com a comunidade, construir futuros profissionais engajados com a solução dos clamores sociais do nosso tempo.

Para a mais recente empreitada, realizada entre janeiro e fevereiro deste ano, duas equipes da faculdade foram enviadas: uma para Águas Lindas de Goiás e outra até Ouriçangas, na Bahia. As equipes dividiram as oficinas em temáticas que abordam assuntos que vão desde Cultura, Direitos Humanos, Justiça, Educação e Saúde a Comunicação, Meio Ambiente, Tecnologia, Produção e Trabalho.

Encarando a realidade de frente

Entre os dias 19 de janeiro e 5 de fevereiro, a Operação Lobo-Guará teve como missão contribuir para o desenvolvimento socioeconômico da cidade de Águas Lindas. Os voluntários só não podiam imaginar que também teriam suas vidas marcadas. Representando a nossa faculdade, a equipe composta por 7 voluntários de diversos cursos foi conduzida pelo coordenador Marquione Gomes e a professora adjunta Thamires Souza.

Esse encontro deveria ter acontecido em 2020, todavia, em razão da pandemia do Covid-19, teve que ser adiado para o início de 2023. A operação engloba, ao todo, 12 cidades do entorno de Brasília (pertencentes aos estados de Goiás e Minas Gerais). De acordo com Marquione, a preparação que a equipe recebeu do Exército, antes de iniciar as atividades, foi decisiva para que o grupo voluntário tivesse segurança na hora de executar as oficinas.

“Como em qualquer outro lugar há pontos críticos (de violência), porém o mais importante é que a população não se renda e passe a ocupar os espaços públicos. Outro exemplo, foi a necessidade de um resgate da cultura que os números não nos mostraram. Lá é uma cidade de imigrantes nordestinos”, revela.

Participando do Rondon pela segunda vez, Thamires conta quais são as principais diferenças entre ir como aluna e as responsabilidades de servir como professora. Papéis distintos, mas que não tiram em nada o brilho de fazer parte de um projeto tão gratificante.

“É totalmente diferente. Como aluna, a minha única preocupação era em realizar as oficinas. Já enquanto professora eu tinha que cuidar dos estudantes, resolver os imprevistos que iam acontecendo, mediar situações de conflito, estar em contato com os representantes da cidade, cuidar da parte burocrática, além de acompanhar todas as oficinas com os voluntários”, explica.

Anelise Resende, coordenadora da equipe da Única na Operação Portal do Sertão, em Ouriçangas, também enaltece o trabalho de preparação realizado pelo 35º Batalhão de Infantaria do Exército para com os alunos. Segundo a psicóloga, foi graças a esse treinamento que o grupo do Vale do Aço conseguiu agir de maneira assertiva em solo baiano.

“Aprendemos sobre construção de abrigos na caatinga, armadilhas contra animais de vários portes, alimentação e tipos de plantas da região que podem servir de alimentos; também sobre chás, sobre como produzir fogo e captar água”, conta a professora.

E já que um dos objetivos do Projeto Rondon é a integração entre diferentes regiões do país, nada melhor do que fazer uma imersão completa, não é mesmo? Anelise destaca como foi a experiência de conhecer melhor a cultura baiana e qual foi a maior diferença entre nordestinos e mineiros. “A fala, com expressões muito diferentes, e também a comida. Muito boa, mas tudo com muito coentro!”, relembra.

Encurtando distâncias

Apesar das diferenças curriculares, os universitários tiveram a oportunidade de construir laços com a comunidade local que extrapolam a relação palestrante-ouvinte. Anelise revela a hospitalidade que encontrou em Ouriçangas como algo encantador.

“Teve as crianças que passaram a nos acompanhar onde a gente ia, queriam ver a gente na escola, mesmo quando não tinha oficina. Acabamos por estabelecer vínculos com as pessoas da comunidade, em particular com as meninas da escola que nos abrigou. Sentimos em vários momentos que ganhamos várias mães”, conta com saudade.

Em Águas Lindas de Goiás não foi diferente. De acordo com Thamires, essa integração com a comunidade fez com que os rondonistas se sentissem em casa. Fato que contribuiu para a execução dos planos de ação, mas que dificultou na hora da partida, tamanha a boa receptividade.

“Fomos super bem recebidos! Tivemos um café no primeiro dia com vários representantes da cidade. Fomos à feira da cidade para conhecer e divulgar. Tivemos uma confraternização de despedida também”, explica.

Marquione salienta que a Operação Lobo-Guará conseguiu cumprir seu propósito. Para ele, árduo trabalho de semanas irá deixar um legado para toda a região, dando um senso de continuidade para as autoridades locais, poder público e, acima de tudo, para os moradores. Segundo o coordenador, graças ao esforço dos jovens de camisa amarela, a população local ganhou de presente uma boa perspectiva em relação ao futuro.

“A missão do rondonista não é focar só em um tema, um aspecto, mas em todos. Exemplo disso são nossas oficinas que atacam situações críticas do município quanto à comunicação, gestão pública, meio ambiente e questões de sustentabilidade, dentre elas: o uso da água, agricultura familiar e as leis de proteção à mulher e de formação docente na educação”, esclarece.

Projeto Rondon para sempre

Uma viagem como essa, tão desgastante, intensa, e rica em complexidade, traz à luz diversas implicações para a vida das pessoas que se propuseram a viver essa aventura. Mais que um projeto de extensão, o Rondon simboliza um divisor de águas na formação profissional e cidadã de todos os envolvidos.

“Lá, a gente escolheu três palavras que para nós significasse o Rondon. Eu escolhi coragem, empatia e transformação. São essas três palavras que aconselho para quem não foi e deseja ir. Ter coragem de ir e viver realidades distintas à sua. Empatia para se colocar no lugar do outro e entender essas realidades”, resume o coordenador Marquione.

Mesmo já tendo vivido uma primeira experiência antes, na operação Rondon das Gerais, ocorrida entre junho e julho de 2022, a professora adjunta Thamires Souza não pensa duas vezes quando a pergunta é se ela gostaria de servir novamente nesta ação.

“Iria em todas as operações se tivesse a oportunidade. A gente sempre quer viajar, conhecer outros lugares, porém mal vamos para o interior. E ver que você consegue fazer a diferença na vida das pessoas com pequenas coisas, não tem preço! A gente percebe o quanto o afeto é importante para o ser humano. Isso te transforma, te faz ter outra visão de mundo. É como se você conseguisse uma energia extra para viver”, conta a professora com convicção.

Com mais de 18 anos lecionando em sala de aula, a docente e psicóloga Anelise Resende já passou por diversas experiências de trato com o ser humano. No entanto, ao falar do Rondon, ela não se furta em afirmar sobre o aprendizado singular que viveu na Bahia e como essa jornada deixa uma lição de vida para muito além das questões acadêmicas.

“Na vida, precisamos de pouco para ser feliz, e existem valores, tais como solidariedade e amor ao próximo, que não tem preço! Também acredito que devemos ser gratos por cada oportunidade que temos na vida, porque nem todo mundo as tem. O Rondon, como diz o slogan, é uma grande lição de vida e cidadania”, encerra a coordenadora.

Na multidão de testemunhas que participam desta jornada, é interessante notar o que existe em comum: gratidão, histórias que marcam, desconhecidos que em poucos dias se tornam família, trabalho duro, lágrimas diante de emoções extremas. Para quem não foi, fica a curiosidade de experimentar na pele o que é tudo isso. Fica também, por fim, a frase mais dita por todos os voluntários da Faculdade Única no Projeto Rondon: “só quem viveu, sabe”.